quinta-feira, 29 de abril de 2010

Ânsias


imagem: internet


Ergo os olhos para o alto
ergo os braços aos céus
e canto um hino ao ar, ao sol, à liberdade!

Eu amo imensamente o imensíssimo azul
da Imensidade!

Tenho sede de beleza
como sede de luz devem sentir os olhos
dos prisioneiros dos subterrâneos...

Eu quero o movimento e a liberdade!
Meus desejos são faunos panteístas
e as minhas ânsias, náiades
pagãs...

Quero a alegria do Sol, como um guri levado
na algazarra infantil de todas as manhãs,
pulando pela montanha para os quintais vizinhos
trepando nos ramos verdes
riscando luz nos caminhos!

Quero essa alma de céu que é a alma das crianças
e dos Poetas!
E essa paixão de louco pelas cousas belas,
- esse culto pagão
pela luz que escancara os olhos das janelas
e acorda a vida que dorme
e sonha, no chão!

Quero ser água e correr sem represas
por lugares diversos
e por terras estranhas,
odeio esse destino das montanhas
encarceradas dentro de si mesmas
e enterradas no chão ...
Que eu seja ao menos como um passarinho
para poder fugir ou me afastar
de onde homens estão!

Namorado das nuvens vagabundas
que sobrepairam picos e altitudes
flutuantes como véus,
amo a distância e a altura - a altura que deslumbra!
- a distância que atrai ... que empurra os horizontes
e os céus!

Quero correr... gritar... explodir e viver
em livres expansões,
sem preconceitos nos gestos!
sem censuras nas palavras!
sem leis para as afeições!

Quero falar, erguer a minha voz
como a do mar que livremente entoa
os seus brados de fúria
e os seus cantos de amor,
na praia onde se atira em arrulhos sensuais
ou na rocha onde em vão se estraçalha e esboroa
em rugidos de dor!

Andar como os rios andam, sem saber por quê,
saltar como as cachoeiras
gesticular como os galhos
e ser livre como o vento
que ninguém prende nem vê...
Cantar como as aves cantam
amar como as flores amam
à luz do sol, do luar, no aconchego de um ramo
e então gritar: - eu vivo! e então gritar: - eu amo!

Viver sublimizando o instinto
numa vida feliz de pureza animal,
dentro da Natureza livre e exuberante
onde o pólen que cai na corola da flor
desconhece a moral!

Viver embriagado de espaço!
dos sons bárbaros da terra
do perfume das cousas
das árvores, do mar, dos campos sem cercados,
dos pássaros que voam tontos, deslumbrados,
e da cantiga das fontes!
Desconhecendo a prisão de todas as fronteiras
e amando a inexistência de todos os horizontes!

Ergo os olhos ao céu
ergo os braços para o alto
e canto um hino ao ar, ao sol, à liberdade!

J. G . de Araújo Jorge


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