domingo, 28 de março de 2010

A prece de Maria



foto: internet


O Sol desce na amplitude do espaço
Na intenção de esconder-se no horizonte,
Rosto redondo, com sorriso encabulado,
Ruborizando o azul da água da noite.

O minuano sopra a flauta em casuarinas,
Completa o fundo, em acordes, o moinho.
E o arvoredo, já sem folhas, se faz palco
Para o coral de afinados passarinhos.

Os ponteiros do relógio se perfilam.
São seis horas, é outono, é fim de dia.
Maria, então, olha o céu e de mãos postas
Mexe os lábios murmurando: - Ave Maria!

Em sua prece diz que o peão teme que a sorte
Lhe tire o campo onde liberto ele se sente.
E o leve ao povo, ao arrabalde, à beira rio,
Pra ver seu rancho mergulhado nas enchentes.

Diz que o pé que tapa a cova com sementes
Não se acostuma com calçados nem calçadas.
Que sem ofício o peão irá procurar vícios
Perdendo o amor que tem na china e na piazada.

Me fere a alma ao vê-la findar a prece,
Quando agradece o tão pouco que ela tem.
Mas se não tem nada além de ser Maria,
Conforta a fé que tem na Maria do além.


 Moacir D'Avila Severo gentileza de Jorge Mondin 




2 comentários:

  1. O que mais dói é que a "vida moderna" substituiu a luta de cada um por uma "crença" iníqua na classe política.

    Dá nisto.

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  2. Mudar... sem preocupação de preservar o belo... o bom...

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